Comentário - Salve Jorge, que dizer da novela.


Em primeiro lugar é uma boa novela e está dentro dos padrões da escritora Glória Perez. A novela talvez não tenha emplacado por não trazer uma trama excepcional com elementos esperados pelo público. Novelas com personagens previsíveis sempre caem no desgosto popular e Salve Jorge, apesar de ter uma boa pontuação no Ibope, está longe de alcançar o sucesso célebre de Avenida Brasil, do João Emanuel Carneiro. A escritora Glória Perez utiliza a fórmula da reunião de extremos sociais como pobreza e riqueza como pano de fundo. É possível ver nas cenas espetaculares da Capadócia, na Turquia contrastando com as favelas do Morro do Alemão no Brasil,comm destaque para as tomadas de externa onde se mostra o luxo absoluto e a humildade da comunidade brasileira. As classes sociais estão bem definidas nas tramas, basta ouvir os sotaques dos personagens como Morena(Nanda Costa), Lucimar(Dira Paes), Maria Vanúbia(Roberta Rodrigues), Lurdinha(Bruna Marquezine), Percoço(Nando Cunha), Delzuite(Solange Badin),Diva(Neusa Borges) e Seu Galdino(Francisco Carvalho) e Clóvis(Wlater Breda) estilizados como "pobres" e a classe Média como Théo(Rodrigo Lombardi), Érica(Flávia Alessandra), Elô(Giovanna Antonelli) e os ricos que são o Mustafá(Antonio Calloni), a vilã Lívia Marine(Claúdia Raia), Leonor(Nicete Bruno). Os empregadas domésticas também são estilizados e vítimas do extremismo; pobres fofoqueiras, capazes das mais nefastas futricas como é possível perceber nos personagens Salete(Flávia Guedes), Creusa(Luci Pereira), enquanto o contraste fica para Thompson(Odilon Wagner), sempre ostentando sua nobreza excêntrica. A verdade é que na novela pobre é pobre mesmo, sem tirar nem por e rico é rico. Será? Com a suavidade de um martelo a escritora pincela religião dentro do tema, repetindo menções ao Santo da Capadócia e tanto no travado carioquês do morro do Alemão, no Brasil quanto no refinadíssimo ambiente Turco da novela, fala-se em São Jorge Guerreiro. Uma abordagem previsível de Glória Perez e seria louvável se não fosse um tema tão sensível e indigesto ao telespectador brasileiro devido a diversidade de crenças. Desta forma a novela ganhou um ambiente religioso particular. Outra questão é sobre o Percoço, rotulado como galinha na novela, mas que perde feio para Théo, que nas suas peripécias conseguiu engravidar a Morena, a Érica, beijar a sua melhor amiga, a Márcia(Fernanda Paes Leme) e de quebra foi pra cama com a vilã Lívia Marine, esse é o "Cara"? A delegada Elô tem pulso firme com a filha e o genro, casal de marginais, mas passa a mão na cabeça dos dois, Stênio(Alexandre Nero) é advogado e está na trama para defender os vilões e atuar de x-9 para a máfia, além de fazer amor e relaxar a delegada. A questão é que a polícia da novela investiga e age menos que a máfia do Russo(Adriano Garib), enquanto a delegada pensa em investigação, Russo, Irina(Vera Fischer), Vanda(Totia Meirelles) e Lívia Marine pensam na ação. Dá uma impressão medonha de que nas favelas só tem periguete e que pobre não sabe ter educação, resolvendo tudo na base do barraco e dos tabefes. As vezes imagino que a Morena não tenha mais lágrimas para chorar de tanto que chora na novela, Mustafá e Berna(Zezé Polessa) vivem ás turras num amontoado de mentiras e a linda filha Aisha(Dani Moreno) persegue sem tréguas a tal família biológica. A questão é o paradoxo que irá criar-se com o clima infinito de preconceito e discriminação vivido pela verdadeira família dela no morro do Alemão. É o extremo do paradoxo, mas retratos de um Brasil. Apesar de tudo, Salve Jorge não deixa de ser uma boa trama. Talvez com menos emoção e mais ação ela envolva mais o telespectador e caia no gosto popular, deixando de ser uma novela tão previsível para tornar-se surpreendente.

Texto de Tony Casanova - Direitos Autorais reservados ao autor.
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