O menininho. [Tony Casanova]


Não que de fato fosse um menino, mas por dentro era assim. Lhe ensinara a vida que os tombos são comuns, mas que é preciso aprender a erguer-se, bater a poeira e prosseguir. Ele sabia que todo ser humano possuía fraquezas, ainda que as ocultasse, elas estão presentes em todos. Ninguém está livre de ser atingido mesmo possuindo uma armadura que lhe ofereça proteção. O menininho sabia disso. Sabia que a vida é cheia de altos e baixos e que nem todos os momentos serão de risos, ou de choros, ou tristezas. Estranhamente a vida emaranha-se em todas as direções, caminha por vários caminhos, mas está sempre disposta a ensinar algo.
O tempo, este que lhe trouxera boas experiências, sempre galopando e trazendo futuros que muitas vezes não estavam nos planos. O menininho, de origem humilde, cresceu na riqueza da sabedoria, com bons educadores, muita correção e disciplina. Podia-se dizer dele um homem, mas por dentro, apenas um menininho. Nem sempre era possível conter as lágrimas quando a vida lhe batia, mas sempre era possível aprender algo com as pancadas. Disposto, ele se resumia em bom aluno e a cada lição, buscava aprender mais. Apesar de todas as perdas, sempre comemorava os ganhos, acreditava que aquilo que era bom não se perde, fica guardado para sempre.
Construiu uma vida de lutas, muitas vitórias, muitas derrotas, mas jamais conheceu o desânimo de lutar. Muitas vezes corrigiu as escolhas em meio a caminhada, traçando novos rumos e objetivos. Assim ele conseguia reunir forças para continuar acreditando e batalhando, galgando novas estradas. Quando questionado se homem ou menino, respondia: - Menino homem ou homem menino. Era difícil distinguir nele uma só faceta, uma só vertente desta dualidade em que vivia. O certo é que homem e menino conservam o mesmo caráter. Quando na sua infância, fase em que viveu de fato a meninice, vivia alegre, pulando, como fazem todos os meninos. Pouca preocupação havia devido a segurança que possuía. Estava cercado de amor, carinho, afeto e dedicação. Tudo que passou a desejar depois desta fase. Ainda jovem, procurou retribuir tudo que havia recebido, aí começou a viver sua época adulta.
O menininho abandou sua adolescência para proteger, amparar e dar socorro. Aprendeu os ofícios da dedicação, ainda que isto lhe custasse o futuro, mas certamente foi o que lhe rendeu o caráter. Ali estava um menininho amando incondicionalmente, sendo amado e cumprindo uma missão árdua, mas muito prazerosa. Tornou-se então adulto precoce. Sentiu na pele as dores da responsabilidade, mas em momento algum se esquivou ou lhe bateu arrependimento. Faria tudo de novo e se pudesse, mudaria o desfecho da situação. Ser um menino é muito agradável e ser adulto não é fácil, pensava ele. Viveu sua fase adulta, mas nunca separou-se da infância. Ela representou momentos excelentes de sua vida e aquilo que é bom a gente não perde, fica guardado para sempre. O menininho estava prestes a sofrer o maior golpe que a vida lhe daria.
De forma cruel, aquele menino viu o seu cordão umbilical ser decepado. Parte de si fora tragada de maneira definitiva causando-lhe a maior e mais forte dor que um ser humano pode sentir. Lhe viera uma liberdade não desejada, um fato mais a ser lamentado, jamais comemorado. Rompeu-se o casulo, ganhou asas então o homem preso ao menininho. Mas estranhamente a vida um dia se esvai por entre os dedos das mãos, mas o que é bom a gente não perde, fica guardado para sempre. Assim o menininho descobriu que não perdeu seu bem maior, apenas o guardou para que em breve possa tê-lo novamente.


Texto do Escritor Brasileiro Tony Casanova. Direitos Reservados ao autor. Proibida a cópia, colagem, reprodução de qualquer espécie ou divulgação em qualquer meio, do todo ou parte dele sem autorização expressa do autor sob pena de infração ás Leis Brasileiras de Proteção aos Direitos Autorais.
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